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sábado, novembro 24, 2007

CINDY

Ao som de "Monkey Gone to Heaven", dos Pixies.

Todo mundo que me conhece o mínimo que seja, sabe da existência de Cindy Pierson-Coombes. Uma de minhas maiores amigas, adorável, geniosa, que completou 14 anos no último dia 12 - ou seja, do signo de escorpião.
Pela idade, percebe-se que não é a minha amiga mais antiga, mas certamente é a que passou mais tempo comigo, já que ela nasceu em minha casa e viveu comigo esses 14 anos.

Caso alguém ainda não saiba, Cindy é uma miniatura Pinscher.



Antes que alguém venha com o papo de que todos que gostam de bichos são do tipo que transformam estes em sub-crianças, pode tirar o cavalo da chuva. Cindy nunca se deixou ser "humanizada" - nunca gostou de usar roupinhas, mesmo para proteger do frio, ou escovar os dentes. Respeitei isso. ;)
E o que dizer dos malas que odeiam os que gostam de bichos, alegando que estes deveriam se preocupar com crianças famintas ou algo do tipo, sendo que os próprios não devem dar a mínima - sou do pressuposto de que se uma pessoa não se importa com seres indefesos, provavelmente não dará a mínima para um semelhante.

Mas estava falando da Cindy. Sem as roupinhas, ela preferiu se esconder do frio em sua cestinha, ou dentro das fronhas de meu travesseiro (apesar de meus protestos), e contraiu sérios problemas bucais por se recusar a ter os dentes escovados - problemas esses agravados por um certo vício em chocolate.
Passou por duas limpezas dos dentes, aproveitando-se das anestesias dadas em dois procedimentos importantes: uma cirurgia de piometra (problema no útero que pode levar à morte) e uma hérnia inguinal; e outra para a retirada de tumores mamais. E nada disso a abalou, pois sempre foi notória por seus corpo e mente joviais.

Até o ano passado, ainda corria e latia feliz pelo quintal, ficava de pé nas patas traseiras para chamar a atenção, e subia e descia de camas e sofás sozinha quando bem queria.
Ela envelheceu espantosamente nos últimos 3 meses. Parou de ficar em pé, de correr, não latia mais tão frequentemente. Não subia nos sofás sozinha, e logo depois não conseguia mais descer também.
No Carnaval do ano passado, ela manifestou crises de dor envolvendo o pescoço e não conseguíamos descobrir o porquê. Cometemos o grave erro de achar que ela, temperamental que era, estava de frescura por ciúmes de uma outra cachorrinha que na ocasião passou o feriado conosco. Só que Cindy nunca foi fresca, a ver pelas cirurgias supracitadas, que ela respondeu muito bem.

Desde o início de outubro ela foi perdendo o movimento das patas - começou tropeçando e caindo, gerando algumas feridinhas em seu corpo. O risco de ser hérnia de disco - comum à raça, e que estaria aparecendo desde o tal Carnaval - fez com que o uso de corticóides fosse iniciado.
Sua respiração foi ficando cada vez mais ofegante. Pela idade e pelo exame de sangue foi detectado hipotireoidismo, e então veio o tratamento com hormônios.
O resultado foi aquém do esperado: depois de uma singela melhora, Cindy ficou tetraplégica e a respiração piorou. Novos exames foram feitos e finalmente o diagnóstico: ela parou de andar devido à 5 hérnias cervicais, e mais 3 lombares; e sua respiração era decorrente de tumores nos pulmões.

Qualquer ser humano nesta situção me sensibilizaria, imagine então ela, tão pequena e sem ter como se expressar?!? Pense eu toda a dor que ela sentiu nos últimos meses - e sem dar um pio. Eu disse que frescura não era com ela.

O problema pulmonar tornava a cirurgia das hérnias arriscada - os efeitos da anestesia nos pulmões eram imprevisíveis - mas antes arriscar por uma melhora do que sentar e esperar. Todas as 5 hérnias cervicais (quase o pescoço todo, uma vez que este tem 7 vértebras) foram tratadas - as lombares não puderam, seria arriscar demais e ela poderia não suportar.

Ela voltou para casa ontem, com pescoço imobilizado e uma cicatriz de mais de 5 dedos atravessando verticalmente a garganta. Chorava de dor e se contorcia tentando se mexer. E não havia nada que pudéssemos fazer a não ser dar-lhe os remédios certos e torcer/rezar pelo melhor. Dependendo de sua recuperação as hérnias lombares poderiam ser tratadas futuramente.

Fui dormir hoje, às 6 da manhã, depois de muito tomar conta dela, me certificar de que estava bem, e lhe dar um último beijinho antes de ir pra cama. Às 7 horas, minha mãe me acorda dando a má notícia: Cindy se foi. O procedimento cirúrgico foi demais para ela, não aguentou.

Tento não me revoltar com o fato de que um bicho tão pequeno e inocente sofra tanto. E, apesar de ter ido de forma tão triste, seu papel foi cumprido. Ela me ensinou sobre companheirismo, amor, felicidade e, sobretudo nesse final, força. E sem precisar dizer uma palavra. Espero que ela saiba o quão é amada por todos nós aqui em casa. E sempre será.

A macaquinha foi pro Céu. Vá em paz.

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