terça-feira, setembro 16, 2003
"Liga Extraordinária", a crítica!!!
ou "Eu bem que tentei ME avisar..."
... QUE OS PARIU!!! Certa vez escrevi aqui que o mundo do cinema ganharia muito se deixasse de empregar roteiristas medíocres e começassem a filmar as graphic novels do Alan Moore. Com histórias inteligentes, amedrontadoras e até engraçadas, era só arranjar um diretor fã do cara e filmar. Nem precisava de storyboard ou de roteirista, porque as histórias são perfeitas do jeito que Moore as escreve, assim como os ângulos apresentados, mesmo em quadrinhos, são mais cinematográficos que muita coisa que vemos por aí. Mesmo o diretor mais preguiçoso do mundo conseguiria fazer um filmaço, fácil, fácil!!
Até entrarem produtores, e estúdios e outros, só pra estragar a festa...
Depois de muito adiar o sofrimento, eu e Lê finalmente resolvemos assistir à "Liga Extraordinária". Não vou dizer que me arrependo amargamente porque eu sabia que TINHA que ver o filme, bom ou ruim, por amor ao trabalho do Alan Moore. Mas, ainda nos créditos iniciais, ao aparecer "baseada na HQ de Alan Moore e Kevin O'Neill" (seria instinto?), me deu uma vontade imensa de levantar da poltrona do cinema e gritar "Blasfêmia!!! Alan Moore nunca escreveria isso!!". Hehehe...
Exageros de lado, parecia que estava prevendo o que viria a seguir.
Nunca na vida tinha visto tamanha "desadaptação" de texto para o cinema. Sabe o que a história do filme tem a ver com a do gibi? ABSOLUTAMENTE NADA!!!. Quer dizer, apenas o uso de personagens da literatura que juntam-se a "Serviço Secreto de Sua Magestade" (mas não exatamente isso...). Até a equipe original é modificada para "agradar as multidões". A missão da trupe é diferente, os meios usados por eles, o vilão... No início você até tenta se adaptar ao jogo, foram vááááárias as vezes em que falei comigo mesma pra deixar de ser cri-cri, que a intenção era fazer algo "um pouco" diferente do original... Mas não deu, chegou num limite em que não dava mais para aturar "licenças poéticas" para com o gibi, porque todas elas eram desastrosas!!
Desde o início, o horror. Por mais que eu adore o Sean Connery (mesmo se saindo bem nas pauladas, ainda prefiro o Allan caidaço do HQ), ele escorregou feio em exigir que seu Allan Quatermain fosse o responsável pela união do grupo, porque assim Mina Harker (Wilhelmina Murray no gibi, o cinema não conhece mais a palavra "sutileza" não?!?!) perde seu emprego e a graça toda vai pro espaço, porque ela é quem comanda à mão-de-ferro os homens na história original. Sem sua real função, a solução no filme foi colocá-la como uma cientista-vampira!! E ela no gibi é professora de música, e não é vampira, apesar dos prováveis maus-bocados que teria passado com Drácula. E ainda colocam uma história de amor entre ela e Dorian Gray (personagem perdido na trama, e que não existe no gibi, mas confesso que sua canastrice às vezes era divertida), pra quê eu não sei.
Mas continua. Para dar aos personagens origens mais "limpinhas", acabam tendo que modificar o rumo da história por completo, perdendo-se as passagens realmente delirantes do HQ. Mina resgatando Quatermain, decrépito de ópio, no Cairo, e sendo auxiliada pelo Capitão Nemo (incluindo aí a primeira aparição dele e de sua Nautilus), é de deixar o leitor de boca aberta. Aliás, muito da graça do HQ é a "fase de recrutamento" do grupo, e já no início do filme metade deles já foram chamados. ALIÁS (de novo), que diabo de Capitão Nemo bonzinho é esse do filme? E que Nautilus é essa que tá mais pra transatlântico Royal Caribbean?? Hunf!
Outra história prejudicada foi a do Homem Invisível, que era a melhor de todas. Ele, que engravidava mocinhas "inocentes" de um internato de fama duvidosa, fazendo-as acreditar que esperavam filhos do Espírito Santo (sim, o próprio), virou o mero personagem responsável pelas piadas (que até eram engraçadas, ele é um personagem muito maneiro, mas...) no filme. E Tom Sawyer, sem comentários, só foi inserido para que um personagem americano "salvasse o filme". Argh. Como bom americano, salva o filme na base da violência, claro, ao invés da sagacidade.
Ah, faltou Jakyll/Hyde. Até gostei do ator que interpreta Dr. Jekyll (Jason Flemyng, que em "Snatch" tá horroroso), porque ficou bem parecido fisicamente com o do gibi (e porque tem uma cara de "rapaz sensível", é meio ruivo, e com roupas de época então... hehehe, podem rir de mim que não bato bem mesmo...), mas estraga quando transforma-se em Mr. Hyde, virando um (d)efeito especial muito do feioso.
Ao menos encontrei uma foto bacana do Dr. Jekyll. Um cara legal.
O Homem-Invisível não quis aparecer aqui...
Aí nos perguntamos: Por quê? Por que então fazer um filme "inspirado" na HQ, uma vez em que uma vírgula sequer foi mantida (pelo contrário, se não tivesse mudado uma vírgula do original, seria filmão garantido). E se a história original não agradou produtores/estúdio/diretor/diabo a quatro, então por quê fazê-la afinal? Nem que fosse uma franquia de heróis, pra faturar horrores, em que se pode fazer algumas modificações pra evitar maiores polêmicas e ainda assim ficar bom (melhor exemplo que "X-Men 2"?)
nas mãos de alguém competente. Mais uma prova que não se deve deixar uma história com cérebro nas mãos de alguém que só quer mostrar explosões e câmeras tremidas. Foi-se o tempo, meu bem.
Aliás, outra coisa que odiei foi vê-los se auto-entitulando "Liga Extraordinária". Como assim??? Estão se achando a Liga da Justiça do século 19, é? Ridículo. Enfim, tremendo dispedício de um elenco bacaninha, de dinheiro, até de caracterização (não ficou nenhuma Brastemp, mas ficou melhor que esperava). Me senti desrespeitada e enganada por ter que ver algo tão diferente do que me foi prometido. Triste, muito triste.
Não costumo nem falar dos filmes ruins que assisto aqui no blog. Mas faz tempo que eu não via algo tão ruim. e não acreditem no cliché "Quem não leu o gibi vai gostar". É ruim mesmo. Tente comprar a série em sebos ou gibiterias (acho que está esgotada, porém), que é o melhor que se faz.
Looking on the Bright Side, talvez com o filme a Pandora Books (editora da Liga no Brasil) resolva relançá-la, ou, ainda melhor, finalmente lance aqui a segunda aventura deles (que saiu lá fora ano passado e também esgotou rapidim). Aliás, diz a lenda que o segundo filme, "baseado" (duvido muito, agora) na segunda série, está por vir. E que Deus (o Senhor) e deus Alan Moore tenham piedade destes que não sabem o que fazem... :o))
ou "Eu bem que tentei ME avisar..."
... QUE OS PARIU!!! Certa vez escrevi aqui que o mundo do cinema ganharia muito se deixasse de empregar roteiristas medíocres e começassem a filmar as graphic novels do Alan Moore. Com histórias inteligentes, amedrontadoras e até engraçadas, era só arranjar um diretor fã do cara e filmar. Nem precisava de storyboard ou de roteirista, porque as histórias são perfeitas do jeito que Moore as escreve, assim como os ângulos apresentados, mesmo em quadrinhos, são mais cinematográficos que muita coisa que vemos por aí. Mesmo o diretor mais preguiçoso do mundo conseguiria fazer um filmaço, fácil, fácil!!
Até entrarem produtores, e estúdios e outros, só pra estragar a festa...
Depois de muito adiar o sofrimento, eu e Lê finalmente resolvemos assistir à "Liga Extraordinária". Não vou dizer que me arrependo amargamente porque eu sabia que TINHA que ver o filme, bom ou ruim, por amor ao trabalho do Alan Moore. Mas, ainda nos créditos iniciais, ao aparecer "baseada na HQ de Alan Moore e Kevin O'Neill" (seria instinto?), me deu uma vontade imensa de levantar da poltrona do cinema e gritar "Blasfêmia!!! Alan Moore nunca escreveria isso!!". Hehehe...
Exageros de lado, parecia que estava prevendo o que viria a seguir.
Nunca na vida tinha visto tamanha "desadaptação" de texto para o cinema. Sabe o que a história do filme tem a ver com a do gibi? ABSOLUTAMENTE NADA!!!. Quer dizer, apenas o uso de personagens da literatura que juntam-se a "Serviço Secreto de Sua Magestade" (mas não exatamente isso...). Até a equipe original é modificada para "agradar as multidões". A missão da trupe é diferente, os meios usados por eles, o vilão... No início você até tenta se adaptar ao jogo, foram vááááárias as vezes em que falei comigo mesma pra deixar de ser cri-cri, que a intenção era fazer algo "um pouco" diferente do original... Mas não deu, chegou num limite em que não dava mais para aturar "licenças poéticas" para com o gibi, porque todas elas eram desastrosas!!
Desde o início, o horror. Por mais que eu adore o Sean Connery (mesmo se saindo bem nas pauladas, ainda prefiro o Allan caidaço do HQ), ele escorregou feio em exigir que seu Allan Quatermain fosse o responsável pela união do grupo, porque assim Mina Harker (Wilhelmina Murray no gibi, o cinema não conhece mais a palavra "sutileza" não?!?!) perde seu emprego e a graça toda vai pro espaço, porque ela é quem comanda à mão-de-ferro os homens na história original. Sem sua real função, a solução no filme foi colocá-la como uma cientista-vampira!! E ela no gibi é professora de música, e não é vampira, apesar dos prováveis maus-bocados que teria passado com Drácula. E ainda colocam uma história de amor entre ela e Dorian Gray (personagem perdido na trama, e que não existe no gibi, mas confesso que sua canastrice às vezes era divertida), pra quê eu não sei.
Mas continua. Para dar aos personagens origens mais "limpinhas", acabam tendo que modificar o rumo da história por completo, perdendo-se as passagens realmente delirantes do HQ. Mina resgatando Quatermain, decrépito de ópio, no Cairo, e sendo auxiliada pelo Capitão Nemo (incluindo aí a primeira aparição dele e de sua Nautilus), é de deixar o leitor de boca aberta. Aliás, muito da graça do HQ é a "fase de recrutamento" do grupo, e já no início do filme metade deles já foram chamados. ALIÁS (de novo), que diabo de Capitão Nemo bonzinho é esse do filme? E que Nautilus é essa que tá mais pra transatlântico Royal Caribbean?? Hunf!
Outra história prejudicada foi a do Homem Invisível, que era a melhor de todas. Ele, que engravidava mocinhas "inocentes" de um internato de fama duvidosa, fazendo-as acreditar que esperavam filhos do Espírito Santo (sim, o próprio), virou o mero personagem responsável pelas piadas (que até eram engraçadas, ele é um personagem muito maneiro, mas...) no filme. E Tom Sawyer, sem comentários, só foi inserido para que um personagem americano "salvasse o filme". Argh. Como bom americano, salva o filme na base da violência, claro, ao invés da sagacidade.
Ah, faltou Jakyll/Hyde. Até gostei do ator que interpreta Dr. Jekyll (Jason Flemyng, que em "Snatch" tá horroroso), porque ficou bem parecido fisicamente com o do gibi (e porque tem uma cara de "rapaz sensível", é meio ruivo, e com roupas de época então... hehehe, podem rir de mim que não bato bem mesmo...), mas estraga quando transforma-se em Mr. Hyde, virando um (d)efeito especial muito do feioso.

Ao menos encontrei uma foto bacana do Dr. Jekyll. Um cara legal.
O Homem-Invisível não quis aparecer aqui...
Aí nos perguntamos: Por quê? Por que então fazer um filme "inspirado" na HQ, uma vez em que uma vírgula sequer foi mantida (pelo contrário, se não tivesse mudado uma vírgula do original, seria filmão garantido). E se a história original não agradou produtores/estúdio/diretor/diabo a quatro, então por quê fazê-la afinal? Nem que fosse uma franquia de heróis, pra faturar horrores, em que se pode fazer algumas modificações pra evitar maiores polêmicas e ainda assim ficar bom (melhor exemplo que "X-Men 2"?)
nas mãos de alguém competente. Mais uma prova que não se deve deixar uma história com cérebro nas mãos de alguém que só quer mostrar explosões e câmeras tremidas. Foi-se o tempo, meu bem.
Aliás, outra coisa que odiei foi vê-los se auto-entitulando "Liga Extraordinária". Como assim??? Estão se achando a Liga da Justiça do século 19, é? Ridículo. Enfim, tremendo dispedício de um elenco bacaninha, de dinheiro, até de caracterização (não ficou nenhuma Brastemp, mas ficou melhor que esperava). Me senti desrespeitada e enganada por ter que ver algo tão diferente do que me foi prometido. Triste, muito triste.
Não costumo nem falar dos filmes ruins que assisto aqui no blog. Mas faz tempo que eu não via algo tão ruim. e não acreditem no cliché "Quem não leu o gibi vai gostar". É ruim mesmo. Tente comprar a série em sebos ou gibiterias (acho que está esgotada, porém), que é o melhor que se faz.
Looking on the Bright Side, talvez com o filme a Pandora Books (editora da Liga no Brasil) resolva relançá-la, ou, ainda melhor, finalmente lance aqui a segunda aventura deles (que saiu lá fora ano passado e também esgotou rapidim). Aliás, diz a lenda que o segundo filme, "baseado" (duvido muito, agora) na segunda série, está por vir. E que Deus (o Senhor) e deus Alan Moore tenham piedade destes que não sabem o que fazem... :o))