sexta-feira, abril 04, 2008
Ao som de “The Angry Mob”, Kaiser Chiefs; "Walking with Thee", Clinic; “Disco Lies”, Moby; "Pogo", Digitalism; “Ready for the Floor”, Hot Chip; e “Radio Heart”, The Futureheads.
PODER.
Fui presenteada recentemente com o livro “Beijar o Céu” de Simon Reynolds, livro que eu não conhecia de autor idem. Ele já escreveu sobre música para algumas das revistas mais importantes do mundo – quando isso ainda queria dizer alguma coisa. Eu, sempre amei ler sobre o assunto, mas sempre tive um pé atrás porque no fim das contas as bandas que me pegavam mesmo nunca foram as favoritas dos críticos (ainda bem, diga-se, é tão bom ser do contra sem ser de propósito) – exemplo que adoro dar sempre citando duas de minhas bandas favoritas é que em 1994 o Blur era “a última modinha inglesa que por sorte nossa nunca chegará aqui”, e em 1995/96 o Weezer era se muito a “simpática banda do clipe de ‘Buddy Holly’”. Hoje, é fácil achar por aí pessoas que dizem que tanto Parklife como o Álbum Azul são obras-primas e aquele blá blá blá de sempre. É divertido ver como as coisas mudam com o passar do tempo.
Ou seja, acreditar no poder de julgamento dessa gente tá longe de ser confiável, mas admito que não resisto em acompanhar o mínimo que seja. E foi lendo o livro de Reynolds que me lembrei de um sutil detalhe que me faz ter cada vez menos paciência com o mundo da imprensa musical: faltam paixão e razão se complementando. No livro, uma coletânea de alguns de seus textos publicados em revistas e outros livros, percebe-se o amor pela música, ao mesmo tempo em que há análise social e até psicológica, isso sem soar petulante. Ele passa a imagem de alguém que sabe do que está falando, tanto que me peguei lendo sobre artistas que não dou a mínima e me interessando em conhecê-los melhor. O mais marcante mesmo é que ele o faz de forma bem simples, sem querer mostrar que “sabe tudo”: ele te mostra que, independentemente do que você saiba ou do que todos dizem sobre certa banda/artista, é bom você saber que certa figura é importante para a música por causa disso, disso e disso. Você pode concordar ou não, gostar ou não, mas é fato. Tão simples que várias vezes fiquei com raiva pelo fato de ele ter conseguido escrever coisas que eu gostaria de ter escrito. Outras vezes dá pra ver que certas previsões foram por água abaixo – como no capítulo sobre Timbaland e Missy Elliott, escrito em 1999, em que ele previa o fim do “reinado” destes no mundo do Hip-hop/R’n’B, mas que mesmo assim não deixa de ser um interessante ensaio sobre a importância de ambos para o gênero que mais tem se espalhado pelo mundo hoje.
Provavelmente por ele ser assim é que se destacou dentre tantos outros jornalistas – quero dizer, não ter esta sacação na hora de escrever não deve ser defeito apenas de nossa geração – mas mesmo assim é algo a se pensar.
Todo mundo sabe que hoje em dia tudo é muito volúvel e coisa e tal. Que qualquer um pode manifestar sua opinião sobre qualquer coisa num blog (alô-ô! XD) e que pode se transformar num especialista em música num clique, só baixar os “discos certos” e tirar onda de que conhece tudo. Mas eu sou retrógrada e confesso que esta sabedoria rasa de almanaque me cansa de vez em quando (“de vez em quando”, pra deixar bem claro, já que reconheço que tem certas bandas clássicas que até tento gostar mas não consigo, então fico na superfície – e por isso mesmo que prefiro nem me manifestar acerca delas). Contudo, ainda me encanto ao ouvir um disco de 2005, ou 1999, ou 1994, ou 1979 sem cansar e continuar achando-o sensacional como da primeira vez que o ouvi. Ou, melhor ainda: pegar aquele disco que comprei há tempos atrás e não dei a mínima na época para então descobrir agora que ele é uma pequena jóia escondida na coleção de CDs, independente de estar nas listas de melhores de blogs e sites “especializados”. Não se trata de nenhuma frustração ou bronca com o hype: é mais uma questão de reconhecer que, na maioria dos casos atuais, nos deixamos guiar por “jornalistas/criadores de tendências” que têm conhecimento musical e social raso e baseado na internet: com muita paixão e nenhum conteúdo ou vice-versa. E paixão sem razão é cegueira; e razão sem paixão é sem-graça.
Reflexo disso é ver que os críticos quanto mais reclamam do hype e da rapidez do sucesso atualmente, mais eles se viciam com a busca da eterna novidade: se uma banda mantém o seu nível, mesmo que seja bom, ela se acomodou; se ela sai dos holofotes por 6 meses que seja, ela sumiu e perdeu sua chance de sucesso; e se ela vem mais de uma vez no Brasil, é porque estão mendigando atenção, sendo que antes da banda em questão vir aqui eles invejavam os festivais gringos por terem o “privilégio” de tê-la em seu cast constantemente. Nessa batalha de contradições, né por nada não, mas eu sou mais eu e meu gosto pessoal e minha capacidade de discernimento.
Isso tudo na verdade é uma questão de poder. No meu caso, seria algo como, “se eu não posso mudar o mundo com música farei então uso da música dos outros”, esperando que esta traga a terceiros o mesmo que traz a mim. Como conseguir convencer um amigo que sabe muito de música de que certa bandinha pop é realmente boa. Mostrar uma banda que ama para uma amiga e vibrar quando ela também se apaixona por esta. É tocar numa festa de público difícil uma música que outras pessoas “mais capacitadas” (ou seja, que conheciam melhor este público) ficaram com receio de tocar e se surpreender ao receber elogios de desconhecidos pela escolha, quando na verdade a música foi selecionada porque um amigo pediu e você queria apenas dançar esta música com ele. É o poder de conseguir fazer algo que se gosta, coisa tão difícil num mundo onde todos têm que abrir mão de várias coisas diariamente. E se tiver um retorno positivo externo, um mero elogio que seja, ótimo. Eis a lição que aprendi com alguns de meus ídolos no decorrer desses anos: se quer fazer algo (ou, no meu caso, gostar de algum artista ou banda), que seja algo que realmente te agrade – não importa os “críticos” nem os “fãs”, pois eles são cegos e/ou tolos. Aliás, se todos vão nos julgar mesmo, ao menos faça o que gosta, pois assim terá algo de bom no final das contas - a satisfação pessoal.
Aproveito aqui para fazer uma ligeira reclamação: é impressão minha ou as festas rock (ao menos no Rio) estão muito caretas? Os sets parecem todos iguais (e bem semelhantes ao HD do meu computador), sem ousadia alguma. Não me refiro a tocar apenas bandas que surgiram ontem ou perder as estribeiras até virar uma “Ploc” da vida. Mas acho que está tudo muito... previsível. E se o rock já está caindo na caretice de novo, gente, tô fora.