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sábado, julho 12, 2008



(essa foto tá aqui para outros propósitos que mais tarde quem sabe eu explico...)

ATRAPALHANDO NEIL

Sou daquelas entusiastas de Histórias em Quadrinhos que enchem a boca pra falar com orgulho que já leu Graphic Novels melhores que muitos livros por aí. Grande parte da responsabilidade por tal declaração recai em 3 autores que revolucionaram o gênero a partir dos anos 1980, provando que quadrinhos não eram apenas histórias de heróis e/ou escritas para crianças - bem como não deveriam ser restritas ao underground.

Como bem mostrou o mestre e criador do termo Graphic Novel ("Romance Gráfico"), Will Eisner, HQs podem ser verdadeiras obras de arte em termos visuais e conterem tramas mais complexas e adultas - coisa que esse trio de autores faz muito bem. Não é à toa que costumo brincar dizendo "Amém" depois que digo seus nomes.

Então, lá vai: Frank Miller, Alan Moore e Neil Gaiman. Amém!

O norte-americano Frank Miller foi o primeiro com quem tive contato, quando li "Elektra Assassina" aos 9 anos. Claro que não entendi lhufas, mas adorei mesmo assim - descobri então que as novels podiam ser tão estilosas, violentas, sexy e vibrantes - e ele logo tornou-se a principal referência quando resolvi me aprofundar no mundo dos quadrinhos adultos: com títulos clássicos como "O Cavaleiro das Trevas", "Ronin", "Sin City" e "300 de Esparta" entre outros, não poderia ser diferente. Tanto que até hoje meu coração bate mais forte quando leio algo a seu respeito, sobre um novo projeto ou algo do tipo.

Lá nos idos da adolescência, fui apresentada ao britânico Alan Moore, um desses caras que me dão medo. Nem tanto por sua aparência e comportamento recluso típicos de hermitão, mas principalmente por se tratar de alguém muito culto e inteligente: a impressão que tenho é que ele não apenas tem sede de conhecimento como sabe o que fazer com toda a informação que adquire. Nada em suas histórias é gratuito, muito menos simples. A riqueza de nuances é de embasbacar qualquer leitor detalhista, como vemos em obras marcantes e/ou importantíssimas como "Watchmen", "Do Inferno" e "As Aventuras da Liga Extraordinária".

Neil Gaiman, o brit-residente-nos-EUA, foi o último com quem tive contato - já adulta. Foi o último porque: 1) não sabia por onde começar com sua extensa obra; 2) morria de medo de não entender nada do mundo de seu personagem mais conhecido, o Sandman - sempre imaginava que suas histórias seriam oníricas e filosóficas demais para mim.

(Porém, Neil conta com o melhor estímulo que uma mulher pode ter para se interessar por seu trabalho: a sua cara. Hahahahahahahaha)



Beleza à parte, o que me encantou em Neil foi que ele conseguiu ser sim, onírico e filosófico mas nunca de forma maçante. Sua narrativa é cinematográfica (como a de Miller e Moore - não é de se espantar que obras dos três já foram para a tela grande com resultados de ótimos a risíveis), resultado das lições que teve com o próprio Moore, para quem pediu ajuda quando decidiu criar histórias para quadrinhos. Cinematográfica e altamente viciante - passei muitas noites em claro sem conseguir desgrudar os olhos das belas, viajantes e muitas vezes temíveis histórias de Sandman. Ele me parece tão cuidadoso e detalhista como Moore, mas sem parecer tão obsessivo - uma leitura riquíssima e ainda assim pop.

Gaiman é muito querido do público brasileiro - segundo o próprio, porque compreendemos e aceitamos melhor esta visão mais mística das coisas - ou seja, qualquer aparição sua por nossas terras sempre rende MUITA gente, MUITOS livros a serem autografados (ele não vai embora enquanto não atende a todos), muitos fãs fantasiados ou com tatuagens de seus personagens favoritos enfim... uma histeria digna de rockstar. Em minha opinião, um culto merecido sim. Afinal, aposto que muita gente aprendeu a gostar de ler por sua causa, e "pra piorar" o cara é gente boa e sabe da importância da troca com seus fãs. Aí, não tem como não gamar de vez!

Minha mãe que resolveu botar pilha para irmos à última Feira Literária de Parati: "O QUEEEEE?!?!?! O NEIL VEM AÍ E VOCÊ NÃO QUER IR VÊ-LO? TÁ DOIDA???" Na verdade, os fãs hardcore e com mais $$$ que eu baixavam a minha bola: a tenda onde Neil estaria já estava com ingressos esgotados desde sempre, e provavelmente todos os lugares para se hospedar já estavam lotados.

"Que nada, dá-se um jeito". Se a mãe disse, tá dito!

Eu, mãe e Patron pegamos o ônibus de 4 da manhã no Rio, este dominado por pessoas de preto, ou de visual descolado, ou com camisa de estampa de gibi. No mínimo 90% estava lá para ver Neil. Chegamos em Parati às 9 da manhã, e ele estava marcado para aparecer na mesa redonda de 11h45 - aquela que já tava lotada, mas que dava para assistir num telão, de graça.

Enquanto fazíamos hora para a aparição do cara, conhecíamos um pouco da cidade. Foi quando minha mãe resolveu dar mais uma dela e perguntou para um segurança qualquer que estava pela cidade se ele sabia onde estava hospedado o Sr. Gaiman. Para surpresa minha e do Patrão, que achávamos que o segurança nem saberia de quem se trata, ele respondeu que achava que ele estava numa pousada, e nos deu instruções de como chegar nela. Parecia fácil demais para ser verdade. E lá fomos nós.

Chegando lá, não era a pousada certa. Não disse que tava fácil demais para ser verdade? Mas a recepcionista nos falou onde ele realmente estava. E lá fomos nós de novo. Chegando no local certo, a nova recepcionista falou que ele estava lá sim, e que ainda nem tinha tomado café e que a gente não poderia esperar por ele lá dentro. Fácil demais pra ser verdade, ele deve sair por uma outra porta escondida ou algo assim.

Esperamos do lado de fora da pousada, de frente à porta de entrada. Alguns minutos depois, surge uma figura extremamente branca de cabelo e barba grisalhos, toda de negro, com os típicos óculos escuros e pára na porta do recinto, ligando sua câmera. Mãe nem reparou, e Patron tinha saído para comprar algo para beber, enquanto que eu estava num semi-estado de choque. Aquilo era sim, bom e fácil demais para ser verdade. E eu não sabia como reagir, só conseguindo murmurar um "Neil???" mais baixinho do que gostaria. Ele olhou direto em minha direção e sorriu e eu pude sentir meu rosto ficando totalmente ruborizado. Só consegui mostrar-lhe um de seus livros - que já estava estrategicamente em minha mão desde que chegamos na pousada - e pedir para ele assiná-lo, o que ele fez sem problema enquanto eu continuava com a reação mais boboca do mundo - do fã com medo de falar qualquer coisa com medo de "estar incomodando". Poderia ter-lhe dito exatamente as palavras com que comecei este post; ou então algumas das palavras que ilustraram parte da metade desde modesto post, mas não consegui. Fiquei apenas calada a seu lado, tentando inalar o máximo possível do mesmo ar que ele, como que buscando uma inspiração ou sei lá - enquanto ele assinava e desenhava pacientemente em minha cópia de "Coraline".

Patron saca sua câmera e tira algumas fotos para registar o momento. E então Sr. Gaiman segue seu rumo, com câmera na mão e seu andar desajeitado, caminhando por alguns minutos pela cidade, tirando algumas fotos e aproveitando seus últimos instantes como anônimo. Alguns minutos depois a gente se cruza novamente e trocamos um sorriso cúmplice, como que dizendo "É, só vocês que me reconheceram mesmo".

Acho que no fim das contas este foi o melhor elogio que poderia ter feito à ele.

- Yours truly,
Sra. T. Beresford


P.S. Então, dia 18, estréia o Filme do Ano. Todos a postos! Eu vou chorar muito - afinal, sou uma dessas pessoas "insensíveis" que não choram em dramalhões, e sim em bons filmes de herói! :D

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