terça-feira, maio 13, 2008
Ao som de: The DFA Remixes Chapters 1 & 2 e "My Love"(DFA mix), Justin Timberlake; Red Album, Weezer.
A SUTIL ARTE DE SER SUTIL
Fazer uma balada de qualidade é uma arte para poucos, tanto que são poucas as que caem no meu gosto. E eu, na minha mania de bibliotecária maluca, gosto de categorizá-las em três grupos: as baladas fofas, as grandiosas e as sutis.
As fofas dão aquela sensação de que conseguiremos acompanhá-las sem problema no violão, tocando todas as cordas ao mesmo tempo mantendo o ritmo, fazendo blim blim blim, sabe? Seu defeito é que, se a música não é boa, torna-se uma balada boboca – o que é, convenhamos, o que mais vejo por aí.
As grandiosas deixam claro que vieram para aparecer. Seu defeito é quando atropelam a linha tênue do bom gosto e tornam-se megalômanas sem necessidade. Já as sutis são as minhas favoritas. Elas não têm a pretensão de serem grandiosas, mas estão longe de serem “meras” fofas. Claro que elas também correm o risco de darem errado e tornarem-se canções vazias – mas, do contrário, são obras marcantes como uma “God Only Knows”, dos Beach Boys ou “Night and Day”, de Cole Porter (aliás, duas de minhas músicas favoritas de todos os tempos).
“Clover Over Dover”, é uma de minhas músicas favoritas do Blur. Não tenho coragem de dizer que é A minha música favorita porque minha lista de favoritas desta banda é extensa e não gosto de excluir ninguém... mas certamente ela está em meu Top 5... ou mesmo no Top 3, porque ela é o exemplo perfeito da capacidade de uma balada sutil: é uma pequena grande canção.
Para ficar com exemplos tirados do mesmo disco de onde esta veio, o Parklife (1994), poderia dizer que “End of a Century” e “Badhead” são fofas, assobiáveis; enquanto que “This is a Low” é densa e grandiosa. Para mim, todas são belas – mas “Clover Over Dover” é especial.
Engraçado que nem a considero como a que melhor representa a personalidade do Blur, mesmo porque trata-se de uma banda tão esquizóide que não faz sentido querer traduzi-la apenas com uma de suas músicas (ironicamente, “Song 2” talvez acabe sendo a que melhor assume o cargo afinal, por tratar-se de uma música igualmente esquisita em se tratando desta banda).
“Clover Over Dover”, a faixa número 12 do disco citado acima, encontra-se “escondida” num lugar ingrato: na metade do lado-B, onde os hits e músicas mais acessíveis já passaram, mas ainda não é o fim propriamente dito, e só encara quem gostou de tudo o que a banda mostrou até então. Não que ela esteja mal-acompanhada, pelo contrário... as faixas 11 (“Trouble in the Message Centre”) e 13 (“Magic America") são duas que mereciam mais atenção do que realmente têm e que até hoje não entendo como elas, bem como outras duas músicas do lado-B (“London Loves” e “Jubilee”, que costumava ser música de abertura dos shows da banda na tour do Parklife) nunca viraram singles. Ok, ok... acho que já consta nos autos que um dos motivos que fazem de Parklife um clássico é o fato de não ter uma música ruim. Mas eu tava falando da faixa 12, então voltemos a ela.
Não sei se isso ocorre com mais alguém (espero que sim, senão vou começar a desconfiar de que tenho POBREMAS, hehe), de uma música ser tão especial que quando ela toca você não consegue fazer mais nada além de ouvi-la, como que em estado de choque. Tenho a sensação de que poderia estar dividindo o átomo, mas se ela começasse a tocar eu largaria tudo só para dedicar minha atenção somente a ela, por ser boa demais e bela demais para ser desperdiçada como música ambiente ou algo assim.
Um amigo que é produtor e engenheiro de som que me fez me ligar nessas detalhes. Certa vez ele pegou uma música antiga do Coldplay de exemplo e falou algo do tipo: “Olha só, o piano faz a mesma coisa o tempo todo a música inteira, mas o produtor tem a sacação de aumentar o volume dele só no refrão, deixando ele mais emocionante. Tudo é ter a manha de aumentar aqui e diminuir ali na hora certa”. É engraçado ver que detalhes técnicos, algo considerado tão “sem coração” para os leigos (como eu) é que resulta em coisas tão emocionantes. Não sei quem foi o responsável por “cometer” esta maravilha de canção – o produtor Stephen Street? Os engenheiros de som John Smith e Stephen Hague? O próprio Blur? – mas uma coisa é fato: as linhas de cada instrumento são simples e repetitivas, e quando em conjunto cravo, órgão, guitarra, baixo e bateria (sem músicos adicionais) encaixam-se de forma mágica, lírica e ainda assim muito sutil.
Deste jeito, não teria como o resultado disto ser menos que maravilhoso. É uma canção única na discografia da banda em minha opinião. Ela é doce como um beijo inesperado vindo no momento em que você mais precisa.
Então eu, num momento raro de amor fraterno por todos que, apesar de seu tempo corrido ainda aparecem para ler isto aqui, ofereço esta canção a vocês. Ouçam-na apenas, e sintam-se beijados.
-Yours Truly,
Sra. T. Beresford
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