quarta-feira, agosto 13, 2008
OS HIVES RIRAM DO RIO

Sou carioca, mas não tenho muito orgulho disso não. Nada contra os cariocas, quero deixar bem claro, mas não me sinto uma carioca – então, porque teria orgulho de algo o qual não me sinto fazendo parte?
(Na verdade, gostaria muito de saber se sou só eu ou se tem mais alguém que se sente tão deslocado assim no mundo. Há algumas exceções de lugares que acho agradáveis, mas mesmo assim não há nenhum lugar (onde eu tenha ido até agora) onde eu me sinta 100% em casa)
Não me sinto em casa no Rio de Janeiro. Até gosto de ir pra lá, mas normalmente com um itinerário pronto – ver tal show, ir a tal lugar, ir pra rádio fazer o programa – e me sinto a maior roceira do mundo andando sozinha pelas ruas do Rio, olhando desesperada para todos os lados tentando evitar um assalto que cedo ou tarde acabará acontecendo. O que mais me irrita são os que até hoje investem nessa fantasia de que “apesar de tudo, o Rio de Janeiro continua lindo”. Né por nada não, mas não consigo mais ver beleza lá – estou ocupada demais tentando escapar ilesa na multidão.
O problema da capital fluminense – bem como o problema do Brasil – é sempre se nivelar por baixo: é votar no candidato “menos ruim”, ou pensar “ah, mas as coisas poderiam estar pior, a gente não tem guerra, nem terremotos" (se bem que a natureza já está se encarregando disso...), enfim, coisas que só nos levam cada vez mais para o buraco. E, aparentemente, ninguém está interessado em tirá-los, nem Rio, nem Brasil, do buraco. Alguns pobres coitados até que tentam fazer a sua parte, mas aí me lembro de um lance típico que reparei outro dia aqui em Petrópolis: colocaram ônibus novinhos na cidade (provavelmente superfaturados etc etc, isso a gente já imagina), e nem se passou um mês deles nas ruas e vários bancos já estão pichados por estudantes-pivetes mal-educados que têm gratuidade na passagem, enquanto a gente aqui que paga inteira – ou seja, paga a passagem deles também, não é? – tem que aturar esse povo esculhambando os nossos meios de transporte. Se a população deprecia o que seria um bem para ela, porque os políticos iriam valer alguma coisa (mesmo porque, são políticos como NÓS e VOTADOS POR NÓS)? Então, é isso aí: a grande maioria não tá nem aí, e por isso o Brasil não vai pra frente.
E o que os Hives têm a ver com a história? Bem, segundo a comunidade da banda no orkut (ok, a fonte é questionável, mas a história é tão coerente que acredito que seja verdade) o show deles aqui no Rio (que tinha tudo para ser lendário e incendiário – para ficar em alguns bons adjetivos terminados em ário) foi cancelado porque alguém em Porto Alegre ofereceu uma quantia muito maior para a banda, que resolveu aceitar e sacrificar sua apresentação por aqui. A banda sueca tá errada? Claro que não. É o trabalho deles, e nada como buscar a melhor recompensa por ele.
Esse caso, que parece uma besteira, nos faz pensar:
1) Se POA fez uma oferta tão superior, uma coisa é certa – tem retorno do público. Ninguém faria uma oferta tão grande sabendo que o show ficaria vazio – a não ser que no sul tenha algum milionário excêntrico que queira um show dos Hives só pra ele, o que acho difícil.
Então, o que faz as produtoras daqui fazerem uma proposta aquém das de lá? Acho que os itens abaixo podem responder isso:
2) As produtoras cariocas sempre acham que, por “se tratar do Rio de Janeiro”, todo e qualquer artista gringo vai querer ter o “privilégio” (?!?!?!) de estar aqui, e com isto estão pouco se lixando com o cachê. Pra piorar, também não respeitam o público, sempre colocando os preços dos ingressos lá em cima – uma tremenda falta de respeito tanto com artista como com os seus fãs.
Agora, por que eles jogam os preços dos ingressos lá pra cima?
3) Porque o público carioca é extremamente modista. Estão pouco se lixando com qualquer gênero que não esteja tocando nas rádios e nas novelas (até agora não entendi como o show do Muse encheu tanto – tem certeza que “Starlight” ou “Supermassive Black Hole” não estão tocando na novela das 8???). Sempre que tem algum evento “maior” (leia-se Tim Festival) tem muito mais gente passando por lá pra aparecer na badalação que para ver qualquer show. Com isso, o pessoal realmente interessado em ver qualquer show que seja tem que se submeter a preços absurdos – que as produtoras colocam lá em cima porque sabem que tem fãs que estarão dispostos a pagar o preço (até hoje o meio ingresso por cem pratas do LCD Soundsystem tá preso na minha garganta, um grande exemplo de show maravilhoso e vazio). Não seria mais fácil colocar os ingressos mais baratos para chamar mais público, inclusive os fanfarrões que só querem badalar?
Com isso, o Rio vai acabar (ou já foi?) sendo passado pra trás quando se trata de eventos alternativos. Vários festivais no nordeste e centro-oeste estão acontecendo, e o sul também está correndo por fora – e como vemos, vencendo. São Paulo sempre será São Paulo e pelo jeito ainda não perderá sua majestade (por ter público cativo e disposto): Motomix de graça, Skol Beats... além dos váááários outros shows que ocorrem lá que nem dão as caras por aqui. Enquanto isso, no Rio... vemos o cachorro correndo atrás do próprio rabo – sempre passando a culpa adiante sem se dar em conta que outro passará a culpa para outro até chegar a você de novo.
O pior de tudo é ver que isso é por pura preguiça! Como já disse, o Rio é uma ótima analogia para o Brasil: nosso país era o primeiro em várias coisas (oras, até no futebol), mas ao invés de correr atrás para sempre se manter no topo, resolveu se assentar no melhor estilo “sou o melhor, pra que se esforçar?!?!?”. Resultado: o mundo correu atrás e o ultrapassou (seja com as exportações de café ou açúcar, seja com o futebol). E agora, Brasil?
O Rio se conformou em ser a “Cidade Maravilhosa” e se deixou ser consumida por violência e pobreza e burrice, onde até os programas culturais (quem foi que disse que somos a Capital Cultural do Brasil mesmo?) estão indo pras cucuias. Vamos ter que nos contentar só com funk, MPB e bandas cover? E quem não se contentar terá que ir ver em outro lugar (SP, POA, Brasília...).
E agora, Rio?
- Yours truly,
Sra. T. Beresford

Sou carioca, mas não tenho muito orgulho disso não. Nada contra os cariocas, quero deixar bem claro, mas não me sinto uma carioca – então, porque teria orgulho de algo o qual não me sinto fazendo parte?
(Na verdade, gostaria muito de saber se sou só eu ou se tem mais alguém que se sente tão deslocado assim no mundo. Há algumas exceções de lugares que acho agradáveis, mas mesmo assim não há nenhum lugar (onde eu tenha ido até agora) onde eu me sinta 100% em casa)
Não me sinto em casa no Rio de Janeiro. Até gosto de ir pra lá, mas normalmente com um itinerário pronto – ver tal show, ir a tal lugar, ir pra rádio fazer o programa – e me sinto a maior roceira do mundo andando sozinha pelas ruas do Rio, olhando desesperada para todos os lados tentando evitar um assalto que cedo ou tarde acabará acontecendo. O que mais me irrita são os que até hoje investem nessa fantasia de que “apesar de tudo, o Rio de Janeiro continua lindo”. Né por nada não, mas não consigo mais ver beleza lá – estou ocupada demais tentando escapar ilesa na multidão.
O problema da capital fluminense – bem como o problema do Brasil – é sempre se nivelar por baixo: é votar no candidato “menos ruim”, ou pensar “ah, mas as coisas poderiam estar pior, a gente não tem guerra, nem terremotos" (se bem que a natureza já está se encarregando disso...), enfim, coisas que só nos levam cada vez mais para o buraco. E, aparentemente, ninguém está interessado em tirá-los, nem Rio, nem Brasil, do buraco. Alguns pobres coitados até que tentam fazer a sua parte, mas aí me lembro de um lance típico que reparei outro dia aqui em Petrópolis: colocaram ônibus novinhos na cidade (provavelmente superfaturados etc etc, isso a gente já imagina), e nem se passou um mês deles nas ruas e vários bancos já estão pichados por estudantes-pivetes mal-educados que têm gratuidade na passagem, enquanto a gente aqui que paga inteira – ou seja, paga a passagem deles também, não é? – tem que aturar esse povo esculhambando os nossos meios de transporte. Se a população deprecia o que seria um bem para ela, porque os políticos iriam valer alguma coisa (mesmo porque, são políticos como NÓS e VOTADOS POR NÓS)? Então, é isso aí: a grande maioria não tá nem aí, e por isso o Brasil não vai pra frente.
E o que os Hives têm a ver com a história? Bem, segundo a comunidade da banda no orkut (ok, a fonte é questionável, mas a história é tão coerente que acredito que seja verdade) o show deles aqui no Rio (que tinha tudo para ser lendário e incendiário – para ficar em alguns bons adjetivos terminados em ário) foi cancelado porque alguém em Porto Alegre ofereceu uma quantia muito maior para a banda, que resolveu aceitar e sacrificar sua apresentação por aqui. A banda sueca tá errada? Claro que não. É o trabalho deles, e nada como buscar a melhor recompensa por ele.
Esse caso, que parece uma besteira, nos faz pensar:
1) Se POA fez uma oferta tão superior, uma coisa é certa – tem retorno do público. Ninguém faria uma oferta tão grande sabendo que o show ficaria vazio – a não ser que no sul tenha algum milionário excêntrico que queira um show dos Hives só pra ele, o que acho difícil.
Então, o que faz as produtoras daqui fazerem uma proposta aquém das de lá? Acho que os itens abaixo podem responder isso:
2) As produtoras cariocas sempre acham que, por “se tratar do Rio de Janeiro”, todo e qualquer artista gringo vai querer ter o “privilégio” (?!?!?!) de estar aqui, e com isto estão pouco se lixando com o cachê. Pra piorar, também não respeitam o público, sempre colocando os preços dos ingressos lá em cima – uma tremenda falta de respeito tanto com artista como com os seus fãs.
Agora, por que eles jogam os preços dos ingressos lá pra cima?
3) Porque o público carioca é extremamente modista. Estão pouco se lixando com qualquer gênero que não esteja tocando nas rádios e nas novelas (até agora não entendi como o show do Muse encheu tanto – tem certeza que “Starlight” ou “Supermassive Black Hole” não estão tocando na novela das 8???). Sempre que tem algum evento “maior” (leia-se Tim Festival) tem muito mais gente passando por lá pra aparecer na badalação que para ver qualquer show. Com isso, o pessoal realmente interessado em ver qualquer show que seja tem que se submeter a preços absurdos – que as produtoras colocam lá em cima porque sabem que tem fãs que estarão dispostos a pagar o preço (até hoje o meio ingresso por cem pratas do LCD Soundsystem tá preso na minha garganta, um grande exemplo de show maravilhoso e vazio). Não seria mais fácil colocar os ingressos mais baratos para chamar mais público, inclusive os fanfarrões que só querem badalar?
Com isso, o Rio vai acabar (ou já foi?) sendo passado pra trás quando se trata de eventos alternativos. Vários festivais no nordeste e centro-oeste estão acontecendo, e o sul também está correndo por fora – e como vemos, vencendo. São Paulo sempre será São Paulo e pelo jeito ainda não perderá sua majestade (por ter público cativo e disposto): Motomix de graça, Skol Beats... além dos váááários outros shows que ocorrem lá que nem dão as caras por aqui. Enquanto isso, no Rio... vemos o cachorro correndo atrás do próprio rabo – sempre passando a culpa adiante sem se dar em conta que outro passará a culpa para outro até chegar a você de novo.
O pior de tudo é ver que isso é por pura preguiça! Como já disse, o Rio é uma ótima analogia para o Brasil: nosso país era o primeiro em várias coisas (oras, até no futebol), mas ao invés de correr atrás para sempre se manter no topo, resolveu se assentar no melhor estilo “sou o melhor, pra que se esforçar?!?!?”. Resultado: o mundo correu atrás e o ultrapassou (seja com as exportações de café ou açúcar, seja com o futebol). E agora, Brasil?
O Rio se conformou em ser a “Cidade Maravilhosa” e se deixou ser consumida por violência e pobreza e burrice, onde até os programas culturais (quem foi que disse que somos a Capital Cultural do Brasil mesmo?) estão indo pras cucuias. Vamos ter que nos contentar só com funk, MPB e bandas cover? E quem não se contentar terá que ir ver em outro lugar (SP, POA, Brasília...).
E agora, Rio?
- Yours truly,
Sra. T. Beresford
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